Desde o início de abril, quando o Ministério da Saúde passou a recomendar o uso de máscaras para toda a população contra o coronavírus, surgiu uma nova opção de renda para quem sabe costurar. Nas redes sociais, postagens de pessoas que estão confeccionando máscaras são inúmeras. Para Janaína Reis Faleiro, técnica de enfermagem de 39 anos, costurar o item de proteção individual passou a ser sua principal fonte de renda.
Desempregada desde outubro, Janaína começou a trabalhar com artesanato e com decoração de festas infantis. Esse mês, ela ia participar da Chocofest, em Nova Petrópolis, na Serra, mas, com a pandemia, a feira foi cancelada e ela ficou com todo o material produzido encalhado.
— Para tentar diminuir o prejuízo, comecei a divulgar as peças de enfeite de Páscoa que eu tinha produzido nas redes sociais. Quando as pessoas vinham comprar, perguntavam se eu tinha máscara para vender e se eu não iria fazer. Foi quando vi a oportunidade — relata Janaína.
Entretanto, além de obter uma forma de se sustentar, ela percebeu que também poderia ajudar outras pessoas. Fazendo os cálculos, viu que conseguiria fazer uma produção de baixo custo para que mais gente tivesse acesso às máscaras e, mesmo assim, conseguiria ter um bom lucro. O produto dela custa R$ 5, e a moradora do bairro Cavalhada tem vendido cerca de cem máscaras por semana
— Percebi a grande procura pelas máscaras e também notei que muitas pessoas menos favorecidas não estavam conseguindo comprar por causa do valor alto que estão cobrando. Então, decidi ajudar para que todos pudessem ter, já que, no momento, não posso estar na linha de frente trabalhando. Como consegui fazer um preço mais acessível, resolvi pedir às pessoas que doem um quilo de alimento na compra de cada máscara para que possamos ajudar os necessitados. Poucas pessoas doaram, mas eu não vou desistir. Doei duas cestas só, até agora, mas que nós mesmos compramos lá em casa. Eu quero poder ajudar muito mais — conta a técnica de enfermagem.
Percebi a grande procura pelas máscaras e também notei que muitas pessoas menos favorecidas não estavam conseguindo comprar por causa do valor alto que estão cobrando. Então, decidi ajudar para que todos pudessem ter
JANAÍNA REIS FALEIRO
Técnica de enfermagem
Janaína ressalta que fez uma pesquisa para confeccionar as máscaras conforme o padrão das que ela utilizava quando trabalhava em hospital. A maior dificuldade que tem encontrado está na pouca variedade de cores nos materiais e no fato de que, mesmo que as lojas de tecido façam atendimento online, ela precisa se dirigir até o estabelecimento, no centro de Porto Alegre, para retirar o material e fazer o pagamento.
— Geralmente uso tricoline, tecido 100% algodão, conforme recomendação da Organização Mundial da Saúde. A costura é dupla, com uma abertura pra colocar filtro. E, mesmo com baixo preço, meu lucro é de 50% — diz a artesã, que conta com a ajuda da mãe na confecção: Nedir Reis Faleiro tem 65 anos e está cumprindo à risca o isolamento social.
Jornada dupla
As irmãs Roseli Valdez dos Santos, 56 anos, e Glória Teresinha Santos Rodrigues, 46, também viram uma oportunidade de renda na confecção de máscaras. Roseli é aposentada da área da educação e Glória trabalha como técnica de enfermagem. As duas já faziam panos de prato bordados, artesanato e peças em crochê para complementar a renda. Com a alta procura, passaram a fabricar máscaras também.
Para Glória, a jornada é intensa: ela concilia suas seis horas diárias em um hospital com mais seis de trabalho com artesanato. Mas o esforço compensa. Ela diz que a renda da jornada dupla faz bastante diferença no final do mês.
— Vendemos em torno de 50 máscaras por semana. As máscaras lisas custam R$ 8 e as bordadas, R$ 10. Contamos com duas máquinas caseiras de costura reta e uma bordadeira doméstica. E, de vez em quando, os maridos dão uma ajudinha, além da minha outra irmã, Marinês, que também colabora muito sempre que pode — conta Roseli.
Ela destaca que as duas procuram estar sempre atualizadas sobre as normas e cuidados de higiene necessários.
— O material que usamos é tricoline. Tínhamos bastante em estoque quando começamos a confeccionar, mas quando falta contamos com as lojas que vendem e entregam em casa — diz Roseli.
Lucro sobe 25%
Para Jane Beatris Elias da Rosa, moradora de Cachoeirinha, a confecção das máscaras significou um aumento de 25% no lucro. Ela já trabalhava com artesanato em tecidos, mas quando viu que o Ministério da Saúde havia liberado o uso de máscaras feitas em casa, percebeu que seria uma boa oportunidade.
— Comecei a confeccionar na semana passada, após finalizar outras entregas que tinha pendentes. Desde que comecei já foram mais de 50 vendidas, e tenho recebido pedidos de clínicas que pretendem distribuí-las aos funcionários. Então, esse número tende a aumentar nos próximos dias — relata.
As máscaras custam R$ 10, mas saem por R$ 8 quando a pessoa leva mais de cinco peças. Conforme Beatris, comprar o tecido pela internet contribui com o lucro, já que, dessa forma, o preço fica mais baixo, além da comodidade de receber em casa, mesmo que demore um pouco mais para chegar.
Ela conta que, como vários portais de notícias divulgaram as normas técnicas do item, ficou fácil saber como as máscaras deveriam ser confeccionadas para atender às recomendações de saúde. Sobre o tecido, ela relata que usa os que são 100% algodão.
— Em maior quantidade usamos o tricoline, mas, como ele teve um aumento no preço médio do metro, precisei buscar outras alternativas, como o percal, que também é 100% algodão e costuma ser usado em clínicas e hospitais. Cumpre a mesma função, porém, com um preço menor — destaca a artesã.
Para divulgar seu trabalho, além a propaganda feita de um cliente para o outro, Beatris conta com a ajuda da filha Hillary Marniery, que faz a gestão das redes sociais, organiza os pedidos e contata os fornecedores.
— Sempre pedimos para os nossos clientes nos recomendarem, e tem dado certo — comemora Beatris.