Artistas fazem shows e performances em transmissões nas redes sociais, museus criam exposições virtuais e editoras e plataformas liberam livros e filmes gratuitos online, tudo para aliviar o isolamento.
O período de isolamento social imposto pela pandemia de coronavírus confinou um terço da humanidade em suas casas em uma tentativa de frear a curva de contágio em todo o mundo. Na impossibilidade de sextar com boteco e balada ou cineminha e pipoca, a internet tornou-se uma grande aliada de artistas que têm usado as redes sociais para fazer pocket shows e de empresas e instituições do setor cultural, que disponibilizam filmes, livros e exposições virtuais.
A Manifesta Arte em Rede, por exemplo, é uma ação que reúne mais de trinta coletivos de artistas e projetos culturais de São Paulo que fará apresentações online, até 15 de abril, de música, performances, debates literários, entre outras atividades. No esquema “pague quanto puder”, a rede vai doar 80% do valor arrecadado para ajudar quem estará mais vulnerável durante a pandemia.
O EL PAÍS selecionou alguns dos melhores programas para um kit de sobrevivência cultural na quarentena.
Música
Além das lives que cantores e bandas brasileiras estão fazendo em seus perfis nas redes —há promessas de transmissões de Pabllo Vittar e Caetano Veloso nos próximos dias, quem sabe—, o Festival Fico em Casa conta com uma programação diária de apresentações. Já participaram artistas e bandas independentes e consagrados, como Tiê, Margareth Menezes, Otto, Mc Carol, Di Ferrero e Mombojó, entre outros. Neste sábado (04/04), o cantor e compositor Rodrigo Amarante, que fez parte das bandas Los Hermanos e Little Joy, se apresenta ao vivo, às 21h30 pelo horário de Brasília.
O prestigioso Montreux Jazz Festival, do Canadá, disponibilizou gratuitamente 56 shows de artistas que passaram pelo festival. Tem preciosidades —muitas delas, raras— como Nina Simone, Johnny Cash, James Brown, Ray Charles, Patti Smith, The Racounters, entre outros. O acesso é gratuito por 30 dias, basta se cadastras e usar o código “FREEMJF1M”.
O Sofar Sounds, plataforma criada para montar shows secretos, lançou o Listening Room para transmitir shows ao vivo de diferentes cidades do mundo em dias e horários variados. Os mais ecléticos e fãs de novidades vão gostar de conferir.
E, durante a quarentena, tem até músico gravando disco em tempo recorde. É o que fez o rapper baiano Baco Exu do Blues, que, em três dias, compôs e gravou as oito faixas que compõem o álbum Não tem bacanal na quarentena. O trabalho faz referência à pandemia de coronavírus e críticas a Jair Bolsonaro. No final da música Tudo vai dar certo, por exemplo, escuta-se os panelaços que têm ocorrido nas últimas semanas contra o presidente.
Literatura
Para os amantes dos livros, várias editoras disponibilizaram o download gratuito de algumas obras de seus catálogos. Como parte da campanha #LeiaEmCasa, a Companhia das Letras liberou dez e-books, entre clássicos da literatura brasileira, como Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, literatura contemporânea e títulos infantis, como Reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato. Os arquivos ficam disponíveis para download até segunda-feira, 6 de abril. A editora também criou em suas redes sociais o projeto Diários do isolamento, em que autores convidados escrevem sobre suas experiências da quarentena e tecem análises sobre as repercussões da pandemia.
A cada dois dias, a LeYa libera um livro diferente para download gratuito, e é preciso estar atento ao site ou às redes sociais da editora. A Haper Collins tem sete títulos disponíveis para download na Amazon e realiza entrevistas online no Instagram com autores e tradutores, durante as quais os leitores podem enviar perguntas. A programação, que já contou com nomes como Ronald Kyrmse, Diogo Lara, Reinaldo José Lopes e Letícia Braga, é atualizada nas redes sociais.
Já a L&PM decidiu liberar uma obra a cada dia, desde 17 de março. A primeira delas foi Alice no País das Maravilhas, de Lewis Caroll, e até agora já estão disponíveis títulos como Viagem ao Centro da Terra (Júlio Verne), O curioso caso de Benjamin Button (F. Scott Fitzgerald), Mrs. Dalloway (Virginia Woolf), As melhores histórias de Sherlock Holmes (Arthur Conan Doyle) e O Pequeno Príncipe (Antoine de Saint-Exupéry), entre outros.
A Rocco, que também tem feito lives com os autores, segue a mesma estratégia de disponibilizar gratuitamente um livro por dia. A lista completa tem 31 títulos, em para baixá-los, é preciso acessar as livrarias digitais e e-books.
Cinema em casa
O Cine Belas Artes, de São Paulo, lançou o Belas Artes à La Carte, sua plataforma de streaming, que conta com um belo catálogo de filmes clássicos e cult. Quem quiser dar um tempo do conteúdo mais pop de plataformas como Netflix ou HBO vai encontrar obras consagradas dirigidas por nomes como Fritz Lang, Andrei Tarkovski, Luchino Visconti, Jean-Luc Godard, Kenji Mizoguchi e o brasileiro José Mujica Marins, o famoso Zé do Caixão, que faleceu em fevereiro.
O acesso gratuito está liberado até o dia 15 de abril para todos que se cadastrarem na plataforma. Depois disso, a assinatura mensal custará 10,90 reais.
Exposições virtuais
Quem está sentindo falta dos museus pode matar a saudade com algumas exposições virtuais organizadas por instituições brasileiras e estrangeiras. O Museu do Futebol, por exemplo, que fica no Estádio do Pacaembu, conta com 14 exposições online —entre elas, a da história da camisa canarinho e visibilidade do futebol feminino—, além de playlists e conteúdos sobre a história e o mercado futebolístico.
Já The Broad Museum, de Los Angeles, criou uma experiência multi-sensorial com a instalação Infinity Room – The Souls of Millions of Light Years Away, de Yayoi Kusama, a mais visitada da instituição. Trata-se do Infinity Drone, que tem trilha sonora criada por Geneva Skeen e, se colocado com o som em alta potência, permite uma viagem sensorial de 14 minutos e 30 segundos.
Alguns dos museus mais visitados do mundo, e que estão de portas fechadas por conta do coronavírus, como os museus do Vaticano, o Louvre (Paris), o Museu do Prado (Madri) e a Galeria Uffizi, em Florença, contam com parte do seu acervo online. A visita virtual vale a pena.
Fonte: https://brasil.elpa.com/cultura/2020-04-04/guia-de-sobrevivencia-cultural-na-quarentena.html